terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Violência da sociedade com grande contributo para stress pós-traumático


A chefe do Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar de Coimbra adiantou à agência Lusa que estudos realizados apontam para uma prevalência de sequelas pós-traumáticas em 10,9 por cento dos antigos combatentes nas ex-colónias e em 7,8 por cento da sociedade portuguesa em geral.Para a especialista, é errado pensar que os distúrbios pós traumáticos estão normalmente associados a ambientes de conflito bélico, embora estas sejam vivências limite mais intensas e constantes. Estão ainda associados à violência nas sociedades modernas, como os maus-tratos em geral, os roubos, a violência doméstica, as catástrofes naturais ou a acontecimentos por acção humana, como incêndios e acidentes de viação.«As pessoas que sofrem certo tipo de acidentes são pessoas com risco acrescido. Os acidentes de viação são marcadamente traumáticos.

Há muita gente com impedimentos psicológicos no seu dia-a-dia», frisou a especialista que, em 2006, organizou um congresso sobre Psiquiatria de Catástrofe, e sexta-feira apresenta em Coimbra um livro que compila contributos dos intervenientes nesse evento.



Luísa Sales realçou que, «felizmente, a maior parte das pessoas não fica com esse tipo de lesões» e consegue lidar com o impacto das próprias vivências traumáticas, sejam as que as vivem directamente, sejam aquelas com que se confrontam reflexamente, como acontece com os bombeiros ou os profissionais de saúde.


«Psiquiatria de Catástrofe - memória do encontro Psiquiatria de Catástrofe e Intervenção na Crise» é uma obra com 430 páginas coordenada por Luísa Sales, que condensa os testemunhos da meia centena de palestrantes nesse evento realizado pelo Hospital de Militar de Coimbra entre 21 e 23 de Setembro de 2006.


«Esta obra é um marco no sentido de que não há nada escrito sobre Psiquiatria de Catástrofe», e é uma reflexão sobre o tema feita por pessoas das áreas mais diversas - militares, jornalistas, autarcas, docentes universitários, psiquiatras, psicólogos, geógrafos, políticos, dirigentes de ONG's e magistrados, referiu a coordenadora.


A intenção - acrescentou - foi reflectir primeiro sobre as ameaças que impendem sobre as sociedades, e depois avaliar como se podem prevenir as crises, como se pode actuar de imediato, e como se pode dar resposta terapêutica.


O stress pós-traumático é uma realidade muito antiga, que começou a chamar a atenção com as consequências do holocausto nazi e com a guerra do Vietname.Luísa Sales adiantou que a nível mundial se estima que mais de 70 por cento da população algum dia seja sujeita a situações de violência susceptíveis de distúrbios pós-traumáticos, mas só três por cento dessas pessoas é que ficam com marcas irreversíveis.


A obra Psiquiatria de Catástrofe é apresentada sexta-feira à tarde na sede da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos. Reúne contributos do Prémio Nobel da Paz Ximenes Belo, do presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Adriano Vaz Serra, do presidente da AMI, Fernando Nobre, do universitário Adriano Moreira e do Juiz Conselheiro Santos Cabral, entre outros.



Fonte: Lusa/SO

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